segunda-feira, 31 de agosto de 2015

RESUMO - Alfabetização: método sociolinguístico (CAPÍTULO 3)

            Paulo Freire, na esperança de contribuir para a inclusão social de milhões de analfabetos brasileiros, no domínio da leitura e da escrita como instrumento para conscientização de seus direitos de cidadão, elaborou o que dominou ser mais uma filosofia de educação do que propriamente um método. Assim, como os conteúdos sociológicos e linguísticos que fundamentam esta proposta de alfabetização estão implícitos no método “Paulo Freire”, a sua descrição e releitura serão utilizadas para a explicitação do que ora denominamos métodos sociolinguístico de alfabetização. Faz-se necessário conceituar “palavra geradora” que é também designação sinônima do método Paulo Freire, ou seja, método da palavra Geradora, por que é extraída do universo vocabular dos aprendizes conforme critério de produtividade temática, fonética e do teor de motivação e conscientização e, a seguir através da decomposição das silabas e pela sua combinação são geradas outras palavras. Para sequenciar a exposição dos pensamentos sociológico do método Paulo freire apresentou seus passos e suas e suas respectivas funções: (1º) Codificação: é a apresentação de um aspecto da realidade expresso pela palavra geradora, por meio de oralidade, desenho, dramatização, mímicas, musicas e outros códigos que o alfabetizando já domina. (2º) decodificação: é a releitura de realidade expressa na palavra geradora para superar as formas ingênuas de compreender o mundo, através da discussão critica e do subsidio do conhecimento universal acumulado. (3º) Analise e síntese: engloba a análise e síntese da palavra geradora, objetivando levar o aprendiz a descoberta de que a palavra escrita representa a palavra falada, através da divisão da palavra em silabas e apresentação de suas famílias silábicas na ficha de descoberta e, a seguir a junção das palavras para formar novas palavras. (4º) fixação da leitura escrita: este passo faz a revisão da análise das silabas da palavra e apresentação de suas famílias silábicas para, através da ficha de descoberta, formar novas palavras com significado e para composição de frases e textos, com leitura e escrita significativas. Nesta etapa, que precede o desenvolvimento propriamente dito do “método”, são operacionalizados conceitos e técnicas destinados a investigar a fala da comunidade e levantar o universo vocabular da clientela, para a escolha das palavras geradoras, estabelecendo um corpus possibilita também a descrição inicial de traços do falar da comunidade escolar. O alfabetizador esclarecido não discriminara o aprendiz, emudecendo-o, estigmatizando-o; pelo contrario respeitara sua variedade, inclusive sua escrita alfabética espontânea (o aprendiz que escreve foneticamente, traduzindo sua variedade de fala) transcrevendo-a para a escrita ortografia e, partindo dela, trabalhando suas diferenças e semelhanças, ajudara o aluno a eliminar o dialeto padrão, tanto falado como escrito, que decorre da escrita ortográfica. A “codificação” e a “descodificação” da palavra geradora constituem os dois primeiros passos do método Paulo Freire de alfabetização garantindo que a aquisição da leitura e da escrita seja significativa no sentido que partem da discussão da palavra geradora, discursivamente através do diálogo o dos códigos que o alfabetizando domina. Tradicionalmente, os materiais didáticos de alfabetização iniciam a alfabetização pela letra ou pela silaba, ou pela sentença, ou ainda por um texto. Essa metodologia torna- se mecânica, se não for inserida na situação e na intencionalidade discursiva do alfabetizando. As primeiras técnicas de escritas precisam está associada a uma autentica oralidade, na qual este fragmento se contextualiza. Nesse, sentido a escrita não será mera transcrição da fala, por que estará investida de significação através da contextualização. Paulo Freire só faz a analise e a síntese das silabas da palavra geradora depois de retira-la do contexto de onde é produzida, com seu significado em uso real da linguagem. “Freire jamais reduziu esse passo de seu método a repetição em coro de famílias silábicas, como ainda ocorre em algumas escolas, em razão de professores acreditarem que mediante tal pratica a criança ira decorar as silabas e com isso aprender a ler”. Freire não tinha essa concepção; para ele por meio da analise e síntese que o aprendiz tomaria consciência da existência da silaba, estabeleceria a correspondência entre a fala e a escrita e, em vez memorizar, compreenderia nosso sistema de escrita alfabético, alem de ter oportunidade de compor novas palavras por meio da ficha de descoberta (composta pela família silábica ou fonética desenvolvida de cada silaba de uma palavra geradora.). A linguística (ciência da linguagem) contribui para a formação do alfabetizador, porquanto oferece fundamentos necessários a compreensão do processo de aprendizagem e ensino da leitura e da escrita, e das estratégias para aquisição dessas habilidades. Ainda é possível refletir sobre as conseqüências das decisões que o educador vem tomar, sem bases na contribuição das linguísticas, levando ao fracasso da alfabetização na escola publica, nos últimos anos, em que 33% dos alunos da 4º série do ensino fundamental ainda permanecem analfabetos (índices do SAEB). Na fase pré-linguística do caminho que percorre ate a alfabetizar- se ignora que a palavra escrita representa a palavra falada e desconhece como essa representação se processa. No nível pré-silábico de escrita o aprendiz pensa que se escreve com desenhos, rabiscos, letras ou outros sinais gráficos, e que a palavra escrita assim inscrita representa a coisa que se refere. A passagem para o estagio seguinte, o nível silábico faz-se com atividades de vinculação do discurso oral com o texto escrito, da palavra escrita com a palavra falada. O aprendiz descobre que a palavra escrita representa a palavra falada e, por vezes, pensa que basta uma letra para se poder pronunciar uma silaba oral. O aprendiz quando supera o nível silábico e atinge o alfabético, vendo nas palavras as silabas e os fonemas combinados desequilibram-se ao perceber que essa relação biunívoca letra/ som, som/ letra, onde a letra representa o som, não ocorre sempre. É o momento em que o educador intervém e mostra que, para o domínio da escrita, o aluno precisa perceber que os sons da fala não são representados sempre biunivocamente, mas que tem relações complexas. Entendera que se fala de um jeito e escreve de outro, com base nãos na transcrição fonética, mas tradição ortográfica. Afinal, segundo Caligari, linguístico e reconhecido especialista em alfabetização: A alfabetização gira em torno de três aspectos importantes da linguagem: a fala, a escrita e a leitura... (1999: 82).

REFERÊNCIA:

MENDONÇA, Onaide Schwartz; MENDONÇA, Olympio Correa. O método sociolinguístico de alfabetização: consciência social, silábica e alfabética. In: Alfabetização: método sociolinguístico: consciência social, silábica e alfabética em Paulo Freire. São Paulo: Cortez, 2007.


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