Tornou-se comum educadores afirmarem que - a alfabetização deve ser um processo criativo, o diálogo precisa estar na sala de aula, precisamos formar o cidadão crítico e reflexivo. Mas como fazer isso? Este livro, através do Método Sociolinguístico, oferece subsídios para o professor desenvolver, passo a passo, uma alfabetização conscientizadora, despertada pelo senso crítico e pela reflexão. Os autores reinventaram o Método Paulo Freire, quando a ele associam atividades dos níveis pré-silábico, silábico e alfabético, decorrentes da Psicogênese da língua escrita, de Emília Ferreiro e Ana Teberosky, apontando um caminho para a alfabetização de qualidade de crianças, jovens e adultos.
Onaide Schwartz Mendonça alfabetizou
crianças no ensino público durante dez anos, é especialista em Didática Geral,
mestre e doutora em Letras – Área de Filologia e Linguística Portuguesa – pela
Universidade Estadual Paulista. Olympio Correa
Mendonça alfabetizou
adultos no ensino público e em comunidades. É professor (aposentado) de
Linguística e Ensino de Língua Materna da Universidade Estadual Paulista, onde
orientou dez mestrados e cinco doutorados recomendados pelo MEC. Eles são os
autores de vários livros que envolvem a temática alfabetização, dentre
eles, “Alfabetização: método sociolinguístico: consciência social, silábica e
alfabética em Paulo Freire”. Esse livro contêm exemplos práticos e concepções
de proposta de alfabetização fundamentadas na Linguística,
Sociolinguística e na Psicolinguística. A parte que aqui será resumida, é o
segundo capítulo do livro supracitado, com o título: “O construtivismo no Brasil:
contribuição, equívocos e consequências para a alfabetização”. Esse trecho
pretende apresentar os resultados da pesquisa “Psicogênese da língua escrita”,
de Emília Ferreiro e Ana Teberosky, em seus aspectos linguísticos,
significativos à alfabetização, e demonstrar os equívocos mais comuns advindos
da interpretação desvirtuada dessa teoria, bem como suas consequências. Para
isso, os autores dividiram o capítulo em três partes: “A contribuição da
Psicogênese da língua escrita para a alfabetização”, “Equívocos da
interpretação da Psicogênese da língua escrita”, e, “Consequências dos
equívocos da interpretação da psicogênese da língua escrita”. Na primeira parte
(“A contribuição da Psicogênese da língua escrita para a alfabetização”), os
autores iniciam mostrando o inicio da pesquisa de Ferreiro e Teberosky, em
1974, sendo a primeira publicação no Brasil em 1986, partindo da concepção de
que a aquisição do conhecimento se baseia na interação do sujeito com o objeto
de conhecimento, demonstrando que antes da criança chegar à escola, ela já faz
hipóteses sobre o código escrito, além de dizer que a teoria piagetiana não
tinha bases suficientes para dar conta da linguagem. Dessa forma, Ferreiro e
Teberosky, partem do pressuposto de que todo o conhecimento tem uma gênese,
colocando as seguintes questões: “Quais as formas iniciais do conhecimento da
língua? Quais os processos de conceitualização do sujeito (ideias do sujeito +
realidade do objeto de conhecimento)? Como a criança chega a ser um leitor, no
sentido das formas terminais de domínio da base alfabética da língua escrita?”
Durante a sua pesquisa, baseado nos experimentos, essas respostas vão sendo
respondidas, criando então, um caminho que a criança percorre na sua formulação
de hipóteses a respeito do código, que pode ser representado nos níveis
pré-silábico, silábico, silábico-alfabético, alfabético. Quando questionada
sobre a aquisição da escrita por adultos, e se o processo se dá da mesma forma
que na criança, Ferreiro mostrou que assim como as crianças sabem, mesmo antes
de vir para a escola, que a escrita é um sistema de representação e fazem
hipóteses, o adulto analfabeto também se encontra na mesma condição. O que
difere, é que os adultos não passam pelo nível pré-silábico, já que tem muito
claro que se escreve com letras e qual a função social da escrita, alem da
dificuldade de conseguir do adulto produções escritas, quando este está
pré-alfabetizado, por se sentir incapaz de tentar escrever. Na segunda parte,
com nome “Equívocos da interpretação da Psicogênese da língua escrita” os
autores abordam o equívoco da exclusão da didática silábica nas escolas que
aderiram à teoria construtivista. Teoria esta que foi introduzida no Brasil com
o intuito de contribuir na melhoria da qualidade da alfabetização, sendo que,
para que isto ocorra, tem havido um abalo nas crenças e nos fundamentos da
alfabetização tradicional, mudando drasticamente a linha de ensino das escolas.
Isso infelizmente acarretou num grande conflito metodológico para os
professores alfabetizadores. A Psicogênese da língua escrita diz que o
professor tem o papel de mediador entre a criança e a escrita, criando
estratégias que propiciem o contato do aprendiz com esse objeto social, para
que possa pensar e agir sobre ele, mostrando que a alfabetização deve ser
significativa, contextualizada. Mesmo trazendo uma ideia global da maneira de
alfabetizar, o professor não deve deixar de fazer a segmentação em fonemas, já
que ela não se desenvolve naturalmente, precisando ser ensinada explicitamente,
só que não necessariamente de maneira mecânica. Na terceira e última parte do
capítulo (“Consequências dos equívocos da interpretação da Psicogênese da
língua escrita”) os autores trazem as principais consequências e orientações
equivocadas decorrentes da má interpretação da Psicogênese da língua escrita:
1) as definições de alfabetização e letramento; 2) a ideia de que as relações
entre fonemas e grafemas são específicas à alfabetização; 3) os textos
utilizados nas “propostas construtivistas”; 4) a ideia de que os alunos
aprendem a escrever só de ver o professor escrevendo na lousa; 5) a ideia de
que não precisa ensinar, já que a criança aprende sozinha; 6) a forma de
solicitar que os alunos escrevam do seu jeito; 7) a ideia de que o professor
não pode corrigir o aluno; 8) o salto entre atividades do nível pré-silábico
para as de nível alfabético; 9) o preconceito contra a sílaba; e, 10) a ideia
de que o professor não pode intervir, já que o sujeito constrói o seu
conhecimento. Percebe-se que o construtivismo teve seu mérito por apresentar
uma teoria sobre a aquisição da escrita, entretanto, se antes não tínhamos uma
teoria, mas somente um método baseado nas cartilhas, hoje temos teoria, mas não
se tem método.
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