Nessa série de postagens, iremos mostrar a análise que fizemos com crianças de diferentes idades, com o intuito de compreender na prática as fases da lecto-escrita. A Teoria que aqui utilizaremos como base é a psicogênese da língua escrita, formulada e comprovada por Ferreiro e Teberosky.
Teorizando o processo de análise...
Dentre
as obras de Emília Ferreiro – Psicogênese da língua escrita é a mais
importante, mesmo que não apresente nenhum método pedagógico. A importância
passa pela revelação dos processos de aprendizagem das crianças, questionando o
modelo tradicional do ensino da leitura e da escrita. A base teórica para
compreender como se dá a aquisição da leitura e da escrita é o construtivismo,
acreditando que a criança tem papel ativo na aprendizagem (construindo o
próprio conhecimento). A principal mudança na escola a partir desse campo de
estudo é transferir o foco, no caso, da alfabetização, do conteúdo ensinado
para o sujeito que aprende, sendo que o principio do processo é que, cada salto
cognitivo depende de uma assimilação e uma acomodação dos sistemas internos (o
que vai levar tempo, por isso o ato de repetir o que ouve não leva a criança a
interpretar o conhecimento e assim fazer o processo descrito acima).
Os aspectos propriamente
linguísticos da Psicogênese da língua escrita (e o que interessa para analisar
a escrita da criança) são para Mendonça e Mendonça (p. 43, 2007) quando
Ferreiro e Teberosky “descrevem o aprendiz formulando hipóteses a respeito do
código, percorrendo um caminho que pode ser representado nos níveis
pré-silábico, silábico, silábico alfabético, alfabético”. A pesquisa demonstra
que essa construção da habilidade de ler e escrever segue uma linha, organizada
em três grandes períodos:
1º) o da distinção entre o modo de representação icônica (imagens) ou não icônica (letras, números, sinais); 2º) o da construção de formas de diferenciação, controle progressivo das variações sobre o eixo qualitativo (variedade de grafias) e o eixo quantitativo (quantidade de grafias). Esses dois períodos configuram a fase pré-linguística ou pré-silábica; 3º) o da fonetização da escrita, quando aparecem suas atribuições de sonorização, iniciado pelo período silábico e terminando no alfabético. (MENDONÇA e MENDONÇA, 2007, p. 44).
Análise de Paulo (nome fictício):
Figura 1 |
A situação da coleta ocorreu em uma sala
de ensino religioso, onde sou professora. Para a criança, um menino de cinco
anos de idade, foi solicitado em forma de brincadeira, sem nenhum tipo de
cobrança, que ela escrevesse uma palavra numa folha. Orientada pela docente da
disciplina que pediu a coleta do material, as palavras seriam de objetos do
cotidiano da criança, então, pedi que escrevesse a palavra ‘bola’. Paulo
respondeu que não sabia escrever, e como percebi que ele tinha ficado um pouco
tenso, pedi que ele escrevesse como sabia e qualquer palavra que quisesse. Então,
ele escreveu as palavras ‘luz’, ‘castelo’ e ‘mamãe’ (ordem que foram escritas).
Analisando a escrita de Paulo (figura
1), percebe-se que: ele não estabelece vínculo entre a fala e a escrita; usa
letras do próprio nome; usa números na palavra; tem leitura global, individual
e instável do que escreve (só ele sabe o que quis escrever), demonstrando que se
encontra no nível pré-silábico. Mesmo tendo consciência de que se escreve com
letras, a criança em questão grafa um número de letras de forma indiscriminada,
sem antecipar quantos e quais caracteres precisará usar para registrar a
palavra.
Nessa fase os conflitos vividos pela criança são a dúvida de quais sinais usar para
escrever as palavras e a necessidade de conhecer o significado dos sinais
escritos. Isso mostra que Paulo precisa saber diferenciar o desenho da escrita,
reconhecer que usamos letras para escrever e perceber que usamos letras
diferentes em diferentes posições. A passagem para o nível silábico, segundo
Mendonça e Mendonça (2007, p. 46) “é feita com atividades que vinculem o
discurso oral com o texto escrito, da palavra escrita com a palavra falada.”
Assim, o aprendiz irá descobrir que a palavra escrita representa a palavra
falada, compreendendo também a relação sonora.
As atividades que são
favoráveis para esse avanço são: alfabeto móvel, desenhar e escrever o que
desenhou, ter contato com diferentes textos, conversar sobre a função da
escrita, bingo de letras, produção oral de histórias, escrita espontânea ou
tendo a professora como escriba, etc. Essas atividades mostram que não há a
necessidade de repetição e memorização sem sentido das letras, mas sim, que
seja apresentada à criança o texto, as letras, a palavra, para que ela perceba
o uso da escrita. Sendo papel do alfabetizador de estimular, proporcionando à
criança maneiras de aprender.
Análise feita por: Sally Soares
Análise feita por: Sally Soares
REFERÊNCIA:
MENDONÇA, Onaide Schwartz; MENDONÇA, Olympio Correa. O construtivismo no
Brasil: contribuição, equívocos e consequências para a alfabetização. In: Alfabetização:
método sociolinguístico: consciência social, silábica e alfabética em Paulo
Freire. São Paulo: Cortez, 2007. p. 41-72.
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