sexta-feira, 28 de agosto de 2015

PARTE 1 - ANÁLISE: em qual fase ele(a) está?

Nessa série de postagens, iremos mostrar a análise que fizemos com crianças de diferentes idades, com o intuito de compreender na prática as fases da lecto-escrita. A Teoria que aqui utilizaremos como base é a psicogênese da língua escrita, formulada e comprovada por Ferreiro e Teberosky.


Teorizando o processo de análise...

Dentre as obras de Emília Ferreiro – Psicogênese da língua escrita é a mais importante, mesmo que não apresente nenhum método pedagógico. A importância passa pela revelação dos processos de aprendizagem das crianças, questionando o modelo tradicional do ensino da leitura e da escrita. A base teórica para compreender como se dá a aquisição da leitura e da escrita é o construtivismo, acreditando que a criança tem papel ativo na aprendizagem (construindo o próprio conhecimento). A principal mudança na escola a partir desse campo de estudo é transferir o foco, no caso, da alfabetização, do conteúdo ensinado para o sujeito que aprende, sendo que o principio do processo é que, cada salto cognitivo depende de uma assimilação e uma acomodação dos sistemas internos (o que vai levar tempo, por isso o ato de repetir o que ouve não leva a criança a interpretar o conhecimento e assim fazer o processo descrito acima).
            Os aspectos propriamente linguísticos da Psicogênese da língua escrita (e o que interessa para analisar a escrita da criança) são para Mendonça e Mendonça (p. 43, 2007) quando Ferreiro e Teberosky “descrevem o aprendiz formulando hipóteses a respeito do código, percorrendo um caminho que pode ser representado nos níveis pré-silábico, silábico, silábico alfabético, alfabético”. A pesquisa demonstra que essa construção da habilidade de ler e escrever segue uma linha, organizada em três grandes períodos:

1º) o da distinção entre o modo de representação icônica (imagens) ou não icônica (letras, números, sinais); 2º) o da construção de formas de diferenciação, controle progressivo das variações sobre o eixo qualitativo (variedade de grafias) e o eixo quantitativo (quantidade de grafias). Esses dois períodos configuram a fase pré-linguística ou pré-silábica; 3º) o da fonetização da escrita, quando aparecem suas atribuições de sonorização, iniciado pelo período silábico e terminando no alfabético. (MENDONÇA e MENDONÇA, 2007, p. 44).

Análise de Paulo (nome fictício):



Figura 1

A situação da coleta ocorreu em uma sala de ensino religioso, onde sou professora. Para a criança, um menino de cinco anos de idade, foi solicitado em forma de brincadeira, sem nenhum tipo de cobrança, que ela escrevesse uma palavra numa folha. Orientada pela docente da disciplina que pediu a coleta do material, as palavras seriam de objetos do cotidiano da criança, então, pedi que escrevesse a palavra ‘bola’. Paulo respondeu que não sabia escrever, e como percebi que ele tinha ficado um pouco tenso, pedi que ele escrevesse como sabia e qualquer palavra que quisesse. Então, ele escreveu as palavras ‘luz’, ‘castelo’ e ‘mamãe’ (ordem que foram escritas).
          Analisando a escrita de Paulo (figura 1), percebe-se que: ele não estabelece vínculo entre a fala e a escrita; usa letras do próprio nome; usa números na palavra; tem leitura global, individual e instável do que escreve (só ele sabe o que quis escrever), demonstrando que se encontra no nível pré-silábico. Mesmo tendo consciência de que se escreve com letras, a criança em questão grafa um número de letras de forma indiscriminada, sem antecipar quantos e quais caracteres precisará usar para registrar a palavra.
          Nessa fase os conflitos vividos pela criança são a dúvida de quais sinais usar para escrever as palavras e a necessidade de conhecer o significado dos sinais escritos. Isso mostra que Paulo precisa saber diferenciar o desenho da escrita, reconhecer que usamos letras para escrever e perceber que usamos letras diferentes em diferentes posições. A passagem para o nível silábico, segundo Mendonça e Mendonça (2007, p. 46) “é feita com atividades que vinculem o discurso oral com o texto escrito, da palavra escrita com a palavra falada.” Assim, o aprendiz irá descobrir que a palavra escrita representa a palavra falada, compreendendo também a relação sonora.

          As atividades que são favoráveis para esse avanço são: alfabeto móvel, desenhar e escrever o que desenhou, ter contato com diferentes textos, conversar sobre a função da escrita, bingo de letras, produção oral de histórias, escrita espontânea ou tendo a professora como escriba, etc. Essas atividades mostram que não há a necessidade de repetição e memorização sem sentido das letras, mas sim, que seja apresentada à criança o texto, as letras, a palavra, para que ela perceba o uso da escrita. Sendo papel do alfabetizador de estimular, proporcionando à criança maneiras de aprender.

Análise feita por: Sally Soares

REFERÊNCIA:


MENDONÇA, Onaide Schwartz; MENDONÇA, Olympio Correa. O construtivismo no Brasil: contribuição, equívocos e consequências para a alfabetização. In: Alfabetização: método sociolinguístico: consciência social, silábica e alfabética em Paulo Freire. São Paulo: Cortez, 2007. p. 41-72.

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