Paulo
Freire, na esperança de contribuir para a inclusão social de milhões de
analfabetos brasileiros, no domínio da leitura e da escrita como instrumento
para conscientização de seus direitos de cidadão, elaborou o que dominou ser
mais uma filosofia de educação do que propriamente um método. Assim, como os
conteúdos sociológicos e linguísticos que fundamentam esta proposta de
alfabetização estão implícitos no método “Paulo Freire”, a sua descrição e releitura
serão utilizadas para a explicitação do que ora denominamos métodos sociolinguístico
de alfabetização. Faz-se necessário conceituar “palavra geradora” que é também designação sinônima do método Paulo Freire, ou seja, método da palavra Geradora, por que é
extraída do universo vocabular dos aprendizes conforme critério de
produtividade temática, fonética e do teor de motivação e conscientização e, a
seguir através da decomposição das silabas e pela sua combinação são geradas outras
palavras. Para sequenciar a exposição dos pensamentos sociológico do método
Paulo freire apresentou seus passos e suas e suas respectivas funções: (1º)
Codificação: é a apresentação de um aspecto da realidade expresso pela palavra
geradora, por meio de oralidade, desenho, dramatização, mímicas, musicas e
outros códigos que o alfabetizando já domina. (2º) decodificação: é a releitura
de realidade expressa na palavra geradora para superar as formas ingênuas de
compreender o mundo, através da discussão critica e do subsidio do conhecimento
universal acumulado. (3º) Analise e síntese: engloba a análise e síntese da
palavra geradora, objetivando levar o aprendiz a descoberta de que a palavra
escrita representa a palavra falada, através da divisão da palavra em silabas e
apresentação de suas famílias silábicas na ficha de descoberta e, a seguir a
junção das palavras para formar novas palavras. (4º) fixação da leitura
escrita: este passo faz a revisão da análise das silabas da palavra e
apresentação de suas famílias silábicas para, através da ficha de descoberta,
formar novas palavras com significado e para composição de frases e textos,
com leitura e escrita significativas. Nesta etapa, que precede o
desenvolvimento propriamente dito do “método”, são operacionalizados conceitos
e técnicas destinados a investigar a fala da comunidade e levantar o universo
vocabular da clientela, para a escolha das palavras geradoras, estabelecendo um
corpus possibilita também a descrição inicial de traços do falar da comunidade
escolar. O alfabetizador esclarecido não discriminara o aprendiz, emudecendo-o,
estigmatizando-o; pelo contrario respeitara sua variedade, inclusive sua
escrita alfabética espontânea (o aprendiz que escreve foneticamente, traduzindo
sua variedade de fala) transcrevendo-a para a escrita ortografia e, partindo
dela, trabalhando suas diferenças e semelhanças, ajudara o aluno a eliminar o
dialeto padrão, tanto falado como escrito, que decorre da escrita ortográfica. A
“codificação” e a “descodificação” da palavra geradora constituem os dois primeiros
passos do método Paulo Freire de alfabetização garantindo que a aquisição da
leitura e da escrita seja significativa no sentido que partem da discussão da
palavra geradora, discursivamente através do diálogo o dos códigos que o
alfabetizando domina. Tradicionalmente, os materiais didáticos de alfabetização
iniciam a alfabetização pela letra ou pela silaba, ou pela sentença, ou ainda
por um texto. Essa metodologia torna- se mecânica, se não for inserida na
situação e na intencionalidade discursiva do alfabetizando. As primeiras técnicas
de escritas precisam está associada a uma autentica oralidade, na qual este
fragmento se contextualiza. Nesse, sentido a escrita não será mera transcrição
da fala, por que estará investida de significação através da contextualização. Paulo
Freire só faz a analise e a síntese das silabas da palavra geradora depois de
retira-la do contexto de onde é produzida, com seu significado em uso real da
linguagem. “Freire jamais reduziu esse passo de seu método a repetição em coro
de famílias silábicas, como ainda ocorre em algumas escolas, em razão de
professores acreditarem que mediante tal pratica a criança ira decorar as
silabas e com isso aprender a ler”. Freire não tinha essa concepção; para ele
por meio da analise e síntese que o aprendiz tomaria consciência da existência
da silaba, estabeleceria a correspondência entre a fala e a escrita e, em vez
memorizar, compreenderia nosso sistema de escrita alfabético, alem de ter
oportunidade de compor novas palavras por meio da ficha de descoberta (composta
pela família silábica ou fonética desenvolvida de cada silaba de uma palavra
geradora.). A linguística (ciência da linguagem) contribui para a formação do
alfabetizador, porquanto oferece fundamentos necessários a compreensão do
processo de aprendizagem e ensino da leitura e da escrita, e das estratégias
para aquisição dessas habilidades. Ainda é possível refletir sobre as
conseqüências das decisões que o educador vem tomar, sem bases na contribuição
das linguísticas, levando ao fracasso da alfabetização na escola publica, nos
últimos anos, em que 33% dos alunos da 4º série do ensino fundamental ainda
permanecem analfabetos (índices do SAEB). Na fase pré-linguística do caminho
que percorre ate a alfabetizar- se ignora que a palavra escrita representa a
palavra falada e desconhece como essa representação se processa. No nível pré-silábico
de escrita o aprendiz pensa que se escreve com desenhos, rabiscos, letras ou
outros sinais gráficos, e que a palavra escrita assim inscrita representa a coisa
que se refere. A passagem para o estagio seguinte, o nível silábico faz-se com
atividades de vinculação do discurso oral com o texto escrito, da palavra
escrita com a palavra falada. O aprendiz descobre que a palavra escrita
representa a palavra falada e, por vezes, pensa que basta uma letra para se
poder pronunciar uma silaba oral. O aprendiz quando supera o nível silábico e
atinge o alfabético, vendo nas palavras as silabas e os fonemas combinados
desequilibram-se ao perceber que essa relação biunívoca letra/ som, som/ letra,
onde a letra representa o som, não ocorre sempre. É o momento em que o educador
intervém e mostra que, para o domínio da escrita, o aluno precisa perceber que
os sons da fala não são representados sempre biunivocamente, mas que tem
relações complexas. Entendera que se fala de um jeito e escreve de outro, com
base nãos na transcrição fonética, mas tradição ortográfica. Afinal, segundo
Caligari, linguístico e reconhecido especialista em alfabetização: A
alfabetização gira em torno de três aspectos importantes da linguagem: a fala,
a escrita e a leitura... (1999: 82).
REFERÊNCIA:
MENDONÇA, Onaide Schwartz; MENDONÇA,
Olympio Correa. O método sociolinguístico de alfabetização: consciência social,
silábica e alfabética. In: Alfabetização:
método sociolinguístico: consciência social, silábica e alfabética em Paulo
Freire. São Paulo: Cortez, 2007.