“Eu vejo o município de Jequié hoje com uma perda muito grande em relação a alfabetização”
Pedagoga, com especialização em
Educação Especial Inclusiva, Psicopedagogia, Transtorno Global do
Desenvolvimento, Gestão Educacional e Planejamento: essa é a formação atual da
professora que foi alfabetizadora durante seis anos. Com formação da Fundação
Luís Eduardo Magalhães na qual ganhou o título de professor alfabetizador
depois de fazer uma prova e uma aula pública, ela nos concedeu entrevista para
conversar sobre a situação da alfabetização na época em que lecionava, fazendo
comparação com a conjuntura atual no Município de Jequié.
Leia a seguir, trechos dessa entrevista:
A Alfa e suas Exper.: Você
trabalhou numa escola pública ou particular? Em qual período?
Professora: Escola Pública, em 1994.
A Alfa e suas Exper.: Quais as dificuldades enfrentadas na escola na qual trabalhava? De que maneira eles eram superados?
Professora: As dificuldades eram aquelas que os professores da escola pública normalmente se queixam: o número de alunos por sala (em média 35 alunos nessa faixa de 6 anos), falta de material didático na escola, falta de uma estrutura física adequada, enfim, bem parecidas com as de hoje. Os problemas eram superados na medida do possível, como podíamos, utilizando materiais que estavam ao nosso alcance: jornal e revistas usadas, levávamos tesoura e cola de casa, etc. No sentido de superação mesmo, de você dá conta de uma realidade, trazendo recursos que estão fora do que o sistema lhe oferece.
A Alfa e suas Exper.: Qual é o perfil dos alunos (idade, situação socio-econômica, escolarização anterior)?
Professora: Falando de idade, eram alunos de 7, 8, 9 anos. No perfil sócio-econômico a escola estava localizada num bairro periférico e pobre da cidade, uma escola de comunidade. Inclusive a rua era conhecida como rua do meretrício (chamado de “brega”). As famílias tinham pouco poder aquisitivo e tinham essa questão social, morando nesse contexto. Muitas crianças não sabiam quem era o pai, porque as mães engravidavam lá na casa de prostituição. Com relação à escolarização anterior, existiam poucas escolas de educação infantil em Jequié, sendo que as que tinham eram oferecidas pela comunidade católica de Jequié. Então, algumas vinham da creche, outras não. Até a idade de 6 anos elas ficavam na rua, brincando, presenciando muitas vezes a vida noturna das mães.
A Alfa e suas Exper.: Qual era a sua formação na época?
Professora: Na época eu não tinha nem formação em pedagogia,
só tinha em magistério. E tinha alguns cursos de capacitação, na área do método
montessoriano, cursos na UESB na área de alfabetização.
A Alfa e suas Exper.: De que forma você trabalhava os conteúdos disciplinares no processo de alfabetização?
Professora: Como tínhamos uma grade curricular onde tínhamos que dar conta de todas as disciplinas, a gente buscava trabalhar tomando como base a questão da linguagem oral e escrita percebendo a necessidade do alunos de melhorar e adquirir a escrita e a fala. A gente ia trabalhando os conteúdos prevendo a busca do aperfeiçoamento da linguagem, para que as crianças pudessem está treinando justamente para melhorar as habilidades delas.
A Alfa e suas Exper.: Como você trabalhava a questão da diferença de fases de aquisição da lecto-escrita em sala de aula?
A Alfa e suas Exper.: Quais as dificuldades enfrentadas na escola na qual trabalhava? De que maneira eles eram superados?
Professora: As dificuldades eram aquelas que os professores da escola pública normalmente se queixam: o número de alunos por sala (em média 35 alunos nessa faixa de 6 anos), falta de material didático na escola, falta de uma estrutura física adequada, enfim, bem parecidas com as de hoje. Os problemas eram superados na medida do possível, como podíamos, utilizando materiais que estavam ao nosso alcance: jornal e revistas usadas, levávamos tesoura e cola de casa, etc. No sentido de superação mesmo, de você dá conta de uma realidade, trazendo recursos que estão fora do que o sistema lhe oferece.
A Alfa e suas Exper.: Qual é o perfil dos alunos (idade, situação socio-econômica, escolarização anterior)?
Professora: Falando de idade, eram alunos de 7, 8, 9 anos. No perfil sócio-econômico a escola estava localizada num bairro periférico e pobre da cidade, uma escola de comunidade. Inclusive a rua era conhecida como rua do meretrício (chamado de “brega”). As famílias tinham pouco poder aquisitivo e tinham essa questão social, morando nesse contexto. Muitas crianças não sabiam quem era o pai, porque as mães engravidavam lá na casa de prostituição. Com relação à escolarização anterior, existiam poucas escolas de educação infantil em Jequié, sendo que as que tinham eram oferecidas pela comunidade católica de Jequié. Então, algumas vinham da creche, outras não. Até a idade de 6 anos elas ficavam na rua, brincando, presenciando muitas vezes a vida noturna das mães.
A Alfa e suas Exper.: Qual era a sua formação na época?
A Alfa e suas Exper.: De que forma você trabalhava os conteúdos disciplinares no processo de alfabetização?
Professora: Como tínhamos uma grade curricular onde tínhamos que dar conta de todas as disciplinas, a gente buscava trabalhar tomando como base a questão da linguagem oral e escrita percebendo a necessidade do alunos de melhorar e adquirir a escrita e a fala. A gente ia trabalhando os conteúdos prevendo a busca do aperfeiçoamento da linguagem, para que as crianças pudessem está treinando justamente para melhorar as habilidades delas.
A Alfa e suas Exper.: Como você trabalhava a questão da diferença de fases de aquisição da lecto-escrita em sala de aula?
Professora: Quando eu fiz o magistério eu não tive essa informação,
por isso quero pontuar a importância da formação continuada. Então quando eu
fui formada eu aprendi que existia métodos de formação: sintético, global e eclético. Só que na hora da prática
qual era a minha ideia enquanto professora? Alfabetizar os meninos como eu fui alfabetizada (o método sintético,
partindo das letras para o texto). Na medida que fui trabalhando dessa forma, e
também fiz um curso com a professora Shada
Martha, que era doutora em alfabetização pela UFRJ, ela veio trazendo
essa discussão sobre o construtivismo.
Então eu aprendi que o construtivismo não é método e sim uma filosofia de
trabalho, uma teoria, baseada na epistemologia do conhecimento de Piaget, onde Emília Ferrero traz um questionamento: é possível o sujeito construir o seu
conhecimento? Então ela faz pesquisas de como o sujeito adquire o conhecimento
da escrita e publica, difundindo o construtivismo. Erroneamente, no tempo que
eu trabalhei como alfabetizadora os professores deixavam de fazer o método
sintético que sabiam fazer e começaram a fazer nada. Na verdade, como toda
teoria, chegou e não podia mais mandar o menino lê o ‘B’ e o ‘A’, e nós professoras ficamos sem saber o que fazer. Como eu estava na
Faculdade nesse período comecei a saber mais sobre essa teoria, e fazendo bom
uso dela pude perceber que realmente eu poderia colocar algumas atividades em
prática e perceber que realmente essas fases acontecem e que de fato a criança
pode construir o seu conhecimento da linguagem sem precisar necessariamente
você está repetindo exercícios de memorização.
A Alfa e suas Exper.: Quais
eram as dificuldades encontradas em sala de aula no que diz respeito à
alfabetização dos alunos?
Professora: A questão do letramento. Uma coisa que eu percebi foi que
o método sintético correspondia bem com aquela clientela porque eles tinham
muito pouco letramento na área de linguagem, era muito restrito. Eles não
tinham em casa material escrito para observar, eram crianças que na condição
social que viviam elas na tinham muito acesso a material escrito, elas não eram
incentivadas à leitura, elas não tinham familiares que liam em casa e por isso
não tinham experiência com a função social da escrita. Então, a dificuldade que
eu tinha era que pra trabalhar num método mais global numa situação daquela
ficava complicado porque as crianças não tinham vivência. Então além de
alfabetiza-las, fazendo atividades para cada nível de escrita, também tínhamos
que fazer a parte do letramento, que era a contando histórias, trazendo jornal
e revista pra sala; muitas vezes as crianças pegavam a revista de cabeça pra
baixo, rasgavam o material, brigavam muito porque tínhamos pouco material e
dividíamos eles em grupos, eles não viam aquele material de forma curiosa, como
se buscassem alguma coisa. Isso pra mim foi uma dificuldade.
Professora: Inicialmente a partir da minha experiência pessoal de
alfabetização e do que tinha aprendido no magistério, apresentando a letra,
depois a sílaba, depois formar as palavras. Com o tempo, fui me informando e me
formando, já comecei a trabalhar mais com apresentação de textos, trabalhar o
contexto, com produção livre dos alunos, pegar o texto fazer grande numa
cartolina ou no quadro, comparar o texto dos alunos com o texto correto, para
que eles perceberem o que tava diferente, aprendi a ter uma concepção
diferenciada do que era o erro. Assim fui clareando minha visão e modificando a
minha prática, passando de sintético para global depois de uma compreensão do
que era trabalhar essa alfabetização de uma forma mais ampla. E a gente percebe
que ela é muito mais rica, muito mais significativa para o aluno, e muito menos
dolorosa.
A Alfa e suas Exper.: O que você tem a dizer sobre a alfabetização das escolas
públicas atuais?
Professora: Hoje, mesmo tendo saído da educação regular, porque
trabalho na educação especial, acompanho esse trabalho como professora
itinerante, como psicopedagoga (avaliando essas crianças que chegam na minha
instituição), eu percebo que o método sintético que foi tão criticado ele ainda
existe, tem muitas escolas que trabalham dessa forma, a postura tradicional
ainda persiste. Eu acho que hoje muitos professores alfabetizadores se sentem
perdidos em relação ao método, à postura de professor, a teoria.. No município
de Jequié se adotou o ciclo básico de desenvolvimento, que é o ensino
fundamental de nove anos, mas os professores parecem não compreender como
funciona esse ciclo, só mudando a nomenclatura, ainda por cima se instaurando a
cultura da progressão automática, pois os professores acreditam que não podem
reprovar, mas também não trabalham de forma processual, como o ciclo pede ainda
seriando as crianças. Claro que hoje com a solicitação de formação, todo mundo
passa pelo curso de Pedagogia e chega com outra visão. Mas quando chega lá na
prática eu penso: as condições da escola continuam as mesmas, poucas coisas
melhoraram, acho que a quantidade de aluno por sala, a oferta de educação
infantil aumentou um pouco, mas falta ainda professor alfabetizador, professor
que participe desse processo junto com a criança e que realmente tenha condição
de levar essa criança ao conhecimento através da construção. A alfabetização
ainda é muito decodificação, não dando a criança condições de sair de uma fase
da lecto-escrita para outra, as atividades sempre as mesmas para todas, por
isso algumas chegam com oito anos sem se alfabetizar, porque a metodologia da
alfabetização ficou perdida dentro dessa teoria de ciclo básico de
desenvolvimento e de aprendizado. Então eu vejo o município de Jequié hoje com
uma perda muito grande em relação a isso, percebo que a nossa alfabetização
está precária porque tem crianças que chegam no ensino fundamental II sem saber
ler. Isso é tanto uma realidade que o Governo Federal resolveu fazer o Programa
de Alfabetização na Idade Certa, que foi implantado no ano de 2012, e eu espero
que as crianças sejam orientadas, porque elas tem condição sim de serem
alfabetizadas aos 8 anos de idade. Então, muitas dificuldades tem surgido, os
professores se queixam muito das crianças que tem dificuldades de aprendizado,
mas que na verdade a criança ficou numa fase da escrita porque não é oferecido
desafios para que ela possa avançar para próxima fase. Ou então ela chega na
fase alfabética, e fica naquela fase, sem criar fluência, nem melhorar a sua
escrita, sua ortografia.. Isso mostra que há muitos equívocos, como todas as
teorias, e em todas as áreas, as teorias vem e não são discutidas, quando eu vi
essa coisa do ciclo básico foi a mesma coisa que aconteceu em 96 com o construtivismo,
aquela febre, mas sem base teórica.
Para ler a entrevista na íntegra clique aqui!
Para ler a entrevista na íntegra clique aqui!